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O meu inicio na meditação se deu através de um livro do monge zen budista, Thich Nath Han - Para Viver em Paz-Editora Vozes, Thich Nhat Han já foi indicado ao Premio Nobel da Paz, ele é minha grande fonte de inspiração para as praticas meditativas. Meu foco são as meditações dinâmicas que podem ser aplicadas na vida cotidiana por isso são descritos vários tipos de práticas. As práticas meditativas transformaram minha vida e hoje sou mais centrado e feliz, consegui também frear e diminuir muito meus pensamentos. Praticante há muitos anos de práticas meditativas, através da Sociedade Budista do Brasil tive contato com monges de outros países onde pude desenvolver mais a minhas práticas. Participei em 2004 de um retiro de meditação com monges do Monastério do Thich Nhat Han. Em 2013 me tornei professor de meditação. As praticas meditativas devem ser incluídas paulatinamente em nossa vida diária como estilo de vida, a Plena Atenção ensinada por Buda pode ser vivenciada em qualquer lugar ou situação.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

MOMENTO ZEN 11ª edição

Editor Mario N. Iampolschi

 momento.zen.mario@hotmail.com





PORQUE DEVEMOS MEDITAR

Fonte : Sociedade Budista do Brasil  -site
   

A resposta é simples, para desfrutar da verdadeira felicidade.

Todos nós sabemos o que é sentir-se feliz. Já sentimos isso várias vezes. O problema é que invariavelmente esse sentimento de felicidade não dura, acaba desaparecendo. Quantas vezes não desejamos obter algo acreditando que aquilo traria a verdadeira felicidade. Obtendo aquilo que desejamos, o sentimento de felicidade pode ser extremamente intenso e recompensador, mas passado algum tempo já não sentimos mais a mesma coisa e até começamos a ver defeitos naquilo que antes parecia completamente perfeito. A nossa reação, regra geral, é colocar defeito no objeto. Ou seja, se aquilo que obtivemos não trouxe a felicidade completa e duradoura é porque não encontramos a coisa certa e assim saímos em busca de alguma outra coisa que seja perfeita e duradoura. E assim seguimos na nossa busca sem fim.

Mas há uma felicidade que é perfeita e duradoura, que não desaparece e que não depende das circunstâncias. A verdadeira felicidade está no interior, nas nossas próprias mentes, não pode ser encontrada no mundo, lá fora. Essa felicidade não é egoísta pois não precisa tomar nada de ninguém e não causa nenhum tipo de dano a ninguém, pois se a nossa felicidade tiver que depender de tomar algo de outras pessoas ou do sofrimento de outras pessoas, elas de alguma forma irão tentar dar um fim nisso. A felicidade que vem do interior não precisa ter um fim e não precisa tomar nada de ninguém, sendo portanto um ato de sabedoria e um ato de compaixão. Para encontrá-la, o único método possível é a meditação.

Entendendo a mente

A meditação é como uma expedição exploratória no interior das nossas mentes. Um processo investigatório que tem dois objetivos. O primeiro é entender como a mente funciona e o segundo é treiná-la.

Entender como a mente funciona significa compreender porque em determinadas situações acabamos agindo ou dizendo coisas que acabam ferindo até mesmo pessoas que queremos muito e a nós mesmos. Coisas das quais acabamos nos arrependendo mais tarde. Ou porque as coisas que obtemos e que nos trazem tanta felicidade, passado algum tempo perdem valor.

Treinar a mente significa deixar de lado aqueles hábitos mentais que acabam produzindo uma felicidade apenas temporária, que prejudicam os outros e a nós mesmos, e que nos afastam da verdadeira felicidade. Além disso, treinar a mente significa cultivar, desenvolver, aqueles hábitos que irão beneficiar os outros e a nós mesmos e que conduzem à verdadeira felicidade.

O objetivo da meditação não é curar um determinado mal-estar emocional que a pessoa possa estar sentindo, mas sim atacar o problema na sua raiz eliminando as causas que dão origem a todos os tipos de mal-estar mental e que impedem a verdadeira felicidade.

Quantos tipos de meditação existem?

Existem vários tipos de meditação no Budismo, mas para atingir os objetivos descritos acima, há dois tipos de meditação que são os mais adequados. Uma é a meditação da concentração e a outra é a meditação de insight. Os dois tipos também são conhecidos como samadhi e vipassana em Pali (shamatha e vipayshana em Sânscrito).

A meditação da concentração visa acalmar e tranquilizar a mente enquanto que a meditação de insight visa ver as coisas que ocorrem na nossa mente como elas na verdade são.

Para dar um exemplo, imaginemos um lago com águas cristalinas, tão limpas que nos permita ver o fundo, ver as pedras e o cascalho, os peixes nadando. Agora imaginem a superfície do lago com ondas agitadas pelo vento, seria possível ver até o fundo do lago? Muito provavelmente não, a superfície do lago tem de estar calma, sem ondas, sem nenhuma agitação. Assim é como funciona a meditação da concentração, que tem como objetivo subjugar a agitação natural da mente para poder ver melhor o que está acontecendo. Agora imaginem que a superfície do lago está calma, a pessoa que está olhando é capaz de ver e apreciar aquilo que está na água, agora se essa pessoa tiver conhecimentos de biologia, geologia ou ecologia, ela poderá apreciar aquilo que está vendo num grau muito mais completo e profundo do que uma que não tenha esse tipo de conhecimento. De modo semelhante com a meditação de insight, que possibilita ao meditador enxergar e entender completa e profundamente aquilo que está ocorrendo na sua mente. Mas isso também implica que há um certo referencial para a prática da meditação de insight que são exatamente os ensinamentos do Buda sobre a realidade das coisas. Praticar a meditação de insight sem esse referencial é perda de tempo. Esse referencial pode ser obtido através do estudo dos ensinamentos Budistas.

Posso meditar sozinho?

Não há nada que impeça alguém de começar a praticar meditação sozinho. É necessário ter um conhecimento razoável dos ensinamentos do Buda e com base nos textos disponíveis sobre meditação é possível ter uma idéia geral sobre como funciona a prática. Havendo oportunidade é recomendável que o meditador tenha o apoio de pessoas mais experientes e que participe de retiros de meditação para obter mais experiência e contar com o auxílio de um professor.

No entanto, há dois obstáculos que são enfrentados por todos os meditadores. Primeiro é a motivação e segundo, como lidar com as dificuldades que surgem.

A meditação como qualquer arte ou esporte requer continuidade na prática. Certo maestro de uma orquestra sinfônica dizia que se um músico da sua orquestra ficasse três dias sem praticar, a audiência perceberia; se ele ficasse dois dias sem praticar, os seus colegas na orquestra perceberiam; e se ele ficasse um dia sem praticar, ele, maestro, perceberia. Com a meditação é a mesma coisa. É necessário incorporá-la como parte da rotina diária, assim como escovar os dentes ou ir ao banheiro. Para fazer isso, no entanto, é necessário motivação. Num retiro de meditação, onde há um grupo de pessoas e uma rotina de atividades estabelecida, fica mais fácil manter a disciplina. Em casa, sozinho, é muito mais difícil. A pessoa tem de encontrar dentro de si mesma essa motivação. Desenvolver um senso de urgência, (samvega em Pali), é um dos principais fatores que ajuda a estimular a energia para a prática da meditação. Esse senso de urgência é despertado ao refletirmos sobre as inevitáveis vicissitudes da vida e o sofrimento gerado pelas enfermidades, envelhecimento e morte. O estudo, a leitura de textos Budistas pode servir como fonte de inspiração, e a participação num grupo que medite regularmente também pode ajudar. Ayya Khema dizia que as pessoas com tendência para aversão são aquelas que são motivadas com mais facilidade para a prática, porém são aquelas que provavelmente, pela própria aversão, irão encontrar mais dificuldades.

O segundo aspecto é como lidar com as dificuldades. Não que a meditação seja algo difícil. A meditação em si é muito fácil. As dificuldades são em geral criadas por nós mesmos devido aos hábitos mentais inábeis acumulados durante muito tempo. Isso é o que cria as dificuldades na meditação.

Qualquer prática de meditação terá mais chance de ser bem sucedida se for acompanhada por uma sensação de bem-estar mental. Isso não só cria um fator de estímulo para praticar a meditação, como é também a condição necessária para que a meditação transcorra com menos dificuldades. O objeto de meditação mais recomendado é a respiração, que inclusive foi o que o próprio Buda empregou. A respiração tem a vantagem de ser algo neutro, mas ao mesmo tempo capaz de condicionar a mente e o corpo. Dependendo da forma como a respiração é observada, ou seja, o tipo de atenção e intenção na mente ao observar a respiração, combinado com um ritmo de respiração que seja confortável e agradável, é possível com facilidade criar essa sensação de bem-estar no corpo e na mente. Esse será um bom ponto de partida, ao qual poderemos sempre recorrer.

Além disso é importante, como base para uma meditação bem sucedida, que o meditador observe certas regras de conduta, cujo conteúdo mínimo abarca os cinco preceitos e o ideal, a Ação Correta, a Linguagem Correta e Modo de Vida Correto do Nobre Caminho Óctuplo. A observação dessas regras de conduta visa evitar o remorso e a agitação mental e com isso, contribuir para o ambiente de bem-estar e tranqüilidade da mente.

Mas mesmo tomando todas essas precauções, é inevitável que as dificuldades surjam, e nesse aspecto, uma pessoa mais experiente pode ajudar bastante evitando que o meditador perca tempo em demasia com problemas de fácil solução. Por outro lado, o meditador tem de estar preparado para emoções fortes que podem se encontrar contidas dentro da mente e que devido à prática da meditação encontrem uma forma de vir à tona e assim impossibilitar que a mente se tranquilize. Nesse caso, o mais prudente é descontinuar a prática da meditação até que ele receba instrução adequada de como lidar com esse aspecto da prática, e para isso a ajuda de um meditador mais experiente ou de um professor será necessária, pois se essa emoção for demasiado intensa e perturbadora, a prática da meditação poderá alimentá-la.

No entanto, há algumas dificuldades que o meditador irá enfrentar e para as quais ele mesmo terá de encontrar a solução, pois as experiências das pessoas variam muito e nem sempre um meditador mais experiente, ou um professor, terá uma resposta satisfatória. Mesmo que o professor tenha tido uma experiência semelhante, as soluções para as dificuldades na meditação podem variar de pessoa para pessoa. Nesses casos o meditador terá que agir como seu próprio professor, ser aluno e professor ao mesmo tempo. Para conseguir isso é necessário ser muito observador e estar disposto a fazer experimentos, tentar diferentes alternativas para avaliar o resultado, é dessa forma que o meditador irá conhecer melhor a sua mente. O importante é não ficar frustrado com as dificuldades que forem encontradas, lembrando sempre que a paciência e a equanimidade são qualidades mentais importantes e que são justamente as dificuldades que fazem com que elas amadureçam.

Lembro de uma história do Ajaan Mun, um dos fundadores da tradição de florestas da Tailândia, que no início da sua carreira como monge, perambulando pelas florestas da Tailândia, ao meditar, com a mente concentrada, tinha a visão de um cadáver e não sabia bem o que fazer com aquilo. Ele recorreu ao seu companheiro monge para pedir ajuda mas este foi incapaz de ajudá-lo, pois as suas experiências meditativas eram completamente distintas. Ajaan Mun teve de encontrar a resposta sozinho através da própria perspicácia. Através da sua determinação e esforço Ajaan Mun acabou se convertendo num dos mais renomados mestres de meditação na Tailândia no século XX. Para aqueles que o conheceram Ajaan Mun era um iluminado. A tradição que ele estabeleceu se mantém viva até os dias de hoje, não só na Tailândia, mas em vários monastérios estabelecidos pelos seus discípulos em muitos países da América do Norte, Europa e Oceania.







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Meditação do cigarro por Osho
Meditação é uma Qualidade do Ser Este é o segredo: desautomatize-se. Se nós pudermos desautomatizar nossas atividades, então, a vida toda se torna uma meditação. Então, qualquer coisa pequena – tomar um banho, comer sua refeição, falar com seu amigo – se torna meditação.  Meditação é uma qualidade; ela pode ser levada a qualquer coisa. Ela não é um ato específico. As pessoas pensam assim, acham que a meditação é um ato específico – quando você se senta olhando para o oriente, você repete certos mantras, queima um incenso, faz isso e aquilo num momento especial, de um modo especial, com gestos especiais. Meditação não tem nada a ver com todas essas coisas. Estas são todas a maneiras para automatizar a meditação e a meditação é contra a automatização. Desse modo, se você puder manter-se alerta, qualquer atividade é meditação: qualquer movimento o ajudará imensamente. . 
  
Bagwan contou: Um homem veio a mim. Ele sofria do vício de fumar há trinta anos; ele estava doente e os médicos disseram: "Você nunca ficará bom se não parar de fumar." Ele era um fumante crônico e não conseguia parar. Mas ele tentou, arduamente e sofreu muito tentando. Conseguia por um ou dois dias, mas então, a necessidade de fumar vinha tão forte que simplesmente o vencia. Novamente ele caía no mesmo esquema.

Por causa disso, ele perdeu toda a autoconfiança; sabia que não podia fazer nem essa pequena coisa: parar de fumar. Ele se desvalorizou diante de si mesmo; considerava-se a pessoa mais sem valor do mundo. Não tinha mais respeito por si mesmo. E assim, ele veio a mim.

Ele disse: "O que posso fazer? Como posso parar de fumar?" Eu lhe disse: "Você tem que entender. Agora, fumar não é apenas uma questão de decisão. É algo que já entrou no seu mundo de hábitos; já se enraizou. Trinta anos é um longo tempo. Esse hábito tem raízes no seu corpo, na sua química, espalhou-se em você. Não é mais apenas uma questão de decidir com a cabeça; sua cabeça não pode fazer nada. Ela é impotente; pode começar coisas, mas não pode pará-las facilmente. Uma vez que você começou e praticou por tanto tempo, você é um grande yogue - trinta anos de prática em fumar! Já se tornou automático; você tem que desautomatizar isso." Ele perguntou: "O que você quer dizer por desautomatizar?"

É nisto que consiste toda a meditação: na desautomatização.

Eu lhe disse: "Faça uma coisa: esqueça tudo sobre parar de fumar. Não há necessidade. Por trinta anos você fumou e viveu; é claro que foi um sofrimento, mas você se acostumou a ele também. E o que importa se você morrer algumas horas antes do que morreria sem fumar? O que você vai fazer aqui? O que você fez? Então, qual a importância em morrer na segunda, na terça ou no domingo. neste ou naquele ano - que importa?"

Ele disse: "Sim, isso é verdade; não importa".

Então eu disse: "Esqueça tudo sobre parar de fumar; não vamos parar absolutamente. Ou melhor, vamos compreender isso. Assim, da próxima vez, faça do fumar uma meditação".

Ele disse: "Do fumar uma meditação?" Eu disse: "Sim. Se as pessoas Zen podem fazer do beber chá uma meditação, uma cerimônia, por que não com o cigarro? Fumar também pode ser uma bela meditação".

Ele ficou impressionado e disse: "O que você está dizendo? Meditação? Conte-me - nem posso esperar!"

Então dei a meditação para ele: "Faça uma coisa. Quando pegar o maço de cigarros do seu bolso, peque-o bem lentamente. Curta, não há pressa. Fique consciente, alerta, atento; pegue lentamente com atenção total. Então, tire um cigarro do maço com toda a atenção, lentamente, não da velha maneira apressada, inconsciente, mecânica. Depois, comece a bater o cigarro no maço, atentamente. Escute o som, como fazem as pessoas Zen quando o samovar começa a cantar e o chá começa a ferver... e o aroma... Então cheire o cigarro e sinta sua beleza..."

O homem disse: "O que você está dizendo? A beleza?"

"Sim, ele é belo. O tabaco é tão divino quanto qualquer outra coisa. Cheire-o; é o cheiro de Deus".

O homem ficou um pouco surpreso: "O que! Você está brincando?"

"Não, não estou brincando.
Mesmo quando brinco, não brinco. Sou muito sério."

Então, ponha o cigarro na boca, com toda a atenção, e acenda-o. Curta cada ato, cada pequeno ato e divida-o em muitos pequenos atos para que você possa tornar-se o mais alerta possível.

Dê a primeira tragada: Deus em forma de fumaça. Os hindus dizem, "Annam Brahm" - "Comida de Deus". Por que não a fumaça? Tudo é Deus. Encha profundamente seus pulmões - isto é pranayam. Estou lhe dando uma nova yoga para um novo tempo! Depois, solte a fumaça, relaxe; dê outra tragada - e faça tudo bem devagar...

Se você puder fazer isso. ficará surpreso; logo verá toda a estupidez disso. Não porque os outros estão lhe dizendo que é estúpido, que é ruim, você o verá; e não apenas intelectualmente, mas a partir de seu ser total; será uma visão da sua totalidade. E então, um dia, se o vício desaparecer, desapareceu; se continuar, continuou.

Você não tem que se preocupar com isso."

Depois de três meses, o homem voltou e disse: "Ele desapareceu! "

"Agora, eu disse, tente isso com outras coisas também".

Este é o segredo, o segredo: desautomatizar. Andando, ande devagar, atentamente. Olhando, olhe cuidadosamente e você verá que as árvores estão mais verdes do que nunca e as rosas estão mais rosas do que nunca. Escute! Alguém está falando, sussurrando: ouça atentamente. Quando você falar, fale atentamente. Deixe que toda a sua atividade de despertar torne-se desautomatizada.


MOMENTO ZEN 10ª Edição

Editor Mario N. Iampolschi

momento.zen.mario@hotmail.com  








 

Libertação do Medo  

Site Sociedade Budista do Brasil 


Um antropologista certa vez questionou um xamã do Alasca acerca das crenças da sua tribo. Depois de algum tempo pacientemente ouvindo as questões do antropologista, o xamã por fim disse: “Olha, nós não acreditamos. Nós temos medo.”

As suas palavras me intrigaram desde quando as ouvi pela primeira vez. Eu também tenho ficado intrigado com as respostas que me dão quando comparto essas palavras com os meus amigos. Alguns dizem que o xamã de modo inconsciente colocou o dedo na linha que separa a religião primitiva da religião civilizada: a religião primitiva está fundamentada no medo infantil; a religião civilizada, no amor, confiança e alegria. Outros argumentam que o xamã expôs as pretensões e negações da religião civilizada e apontou para a verdadeira fonte de toda vida religiosa séria.

Se formos ao fundo das premissas por detrás dessas duas respostas, descobriremos que a primeira resposta encara o medo em si como a nossa maior fraqueza. Se pudermos simplesmente superar o medo, nos colocaremos numa posição de força. A segunda encara o medo como a nossa resposta mais honesta para a nossa maior fraqueza em vista do envelhecimento, enfermidade e morte – uma fraqueza que não pode ser superada com uma simples mudança de atitude. Se não estivermos em contato com os nossos medos, não nos sentiremos motivados para fazer aquilo que é necessário para nos protegermos dos verdadeiros perigos. 
Então – qual atitude em relação ao medo é infantil e qual é madura? Há um elemento de verdade em ambas? Se for assim, como podem esses elementos serem combinados da melhor forma? Essas questões são respondidas da melhor forma se forem reformuladas: Até que ponto o medo é uma emoção útil? Até que ponto não é? Ele desempenha algum papel na prática que dá um fim ao medo?
A resposta Budista a essas questões é complexa. Isso se deve em parte às raízes duplas do Budismo – como uma tradição erudita e como uma tradição das florestas – e também devido à complexidade do medo em si, mesmo nas suas formas mais primitivas. Pense num gamo à noite que repentinamente é surpreendido pelos faróis de um caçador. Ele fica confuso. Bravo. Ele pressente o perigo e a sua fraqueza perante o perigo. Ele quer escapar. Esses cinco elementos – confusão, aversão, a noção do perigo, um senso de fraqueza e o desejo de escapar – estão presentes, em maior ou menor grau, em todos os medos. A confusão e a aversão são os elementos inábeis. Mesmo se o gamo tiver muitas opções para escapar do caçador, a sua confusão e aversão poderão fazer com que ele não se dê conta delas. O mesmo se aplica aos seres humanos. Os erros e maldades que cometemos quando nos sentimos fracos em face do perigo provêm da confusão e da aversão.

Disparatadamente, no entanto, existem também maldades que cometemos por complacência, distraídos dos verdadeiros perigos: as coisas insensíveis que fazemos quando sentimos que podemos escapar das consequências. Assim os três últimos elementos do medo – a percepção de fraqueza, a percepção do perigo e o desejo de escapar – são necessários para evitar os malefícios da complacência. Quando destituídos da confusão e aversão, esses elementos se tornam uma qualidade positiva, a diligência – algo tão essencial para a prática que o Buda dedicou suas últimas palavras para ela. Os perigos da vida são reais. Nossas fraquezas são reais. Se não os virmos claramente, não os levaremos a sério e não tentaremos encontrar uma escapatória, pois não existe uma maneira de pormos um fim às causas dos nossos medos. Como o gamo: se ele for complacente em relação aos faróis do caçador, com certeza acabará amarrado ao pára-choque.

Então, para livrarmos verdadeiramente a mente do medo, não podemos simplesmente negar que existe razão para ter medo. Temos que subjugar a causa do medo: a fraqueza da mente em face de perigos bem verdadeiros. A distinção do Buda na abordagem desse problema encontra-se no seu insight em relação à confusão – ou para usar o termo padrão Budista, a delusão – que faz com que o medo seja inábil. Apesar da complexidade do medo, a delusão é o único fator que, em si mesma, é ao mesmo tempo a principal fraqueza da mente e o seu maior perigo. Assim, o Buda aborda o problema do medo focando na delusão, e ele ataca a delusão de duas formas: fazendo com que pensemos no seu perigoso papel ao fazer com que o medo seja inábil e fazendo com que desenvolvamos forças internas que conduzem aos insight que libertam a mente das delusões que a enfraquecem. Dessa forma, nós não só subjugamos o fator que faz com que o medo seja inábil. No fim, colocamos a mente numa posição em que ela não necessita do medo.


Quanto mais complacentes formos em relação aos verdadeiros perigos que espreitam à nossa volta, mais chocados e confusos ficaremos quando eles de fato nos atingirem. Isso conduz à segunda forma através da qual as delusões que cercam os nossos medos promovem as ações inábeis: reagimos aos perigos verdadeiros de maneiras que, ao invés de darmos um fim aos perigos, na verdade criamos novos. Acumulamos fortuna para criar segurança, mas a riqueza cria a fama que estimula a inveja nos outros. Construímos muros para manter as pessoas perigosas do lado de fora, e esses muros se convertem nas nossas prisões. Armazenamos armas, e estas podem facilmente ser usadas contra nós.

A resposta mais inábil ao medo é quando, percebendo que a nossa vida ou posses estão em perigo, acreditamos que podemos obter força e segurança destruindo as vidas e posses dos outros. A delusão que permeia os nossos medos faz com que percamos a perspetiva. Se outras pessoas agissem dessa forma, saberíamos que elas estão equivocadas. Mas de alguma forma, quando nos sentimos ameaçados, os nossos padrões mudam, a nossa perspetiva se distorce para que o errado pareça certo, contanto que sejamos nós agindo assim.

Essa é provavelmente a fraqueza humana mais desconcertante de todas: a nossa inabilidade de confiar em nós mesmos, de que seremos capazes de fazer a coisa certa quando chegar o momento decisivo. Se os padrões de certo e errado tiverem importância apenas quando forem convenientes, então eles não possuem nenhum significado real.

Felizmente, no entanto, a área da vida que apresenta o maior perigo e insegurança é a área na qual, através do treinamento, podemos realizar as maiores mudanças e exercer o maior controle. Embora o envelhecimento, enfermidade e morte sigam o nascimento de modo inevitável, a delusão não. Esta pode ser prevenida. Se, através do pensamento e meditação, nos tornarmos atentos aos perigos que a delusão apresenta, poderemos nos sentir motivados a superá-la. No entanto, os insights provenientes do simples raciocínio e meditação não são suficientes para compreender completamente e derrotar a delusão. É igual a qualquer outra revolução: não importa o quanto você pense sobre o assunto, você não conhecerá realmente os estratagemas e as forças dos poderes entrincheirados até que reúna as suas próprias tropas e guerreie contra eles. E só quando as suas próprias tropas desenvolverem os seus próprios estratagemas e forças é que elas poderão sair vencedoras. Assim também é com a delusão: só quando você desenvolve forças mentais é que pode ver através das delusões que dão ao medo a sua força. Além disso, essas forças poderão colocá-lo numa posição onde você nunca mais estará exposto a perigos.

O Cânone lista cinco forças mentaisconvicção, energia, atenção plena, concentração, sabedoria. Ele também enfatiza o papel que a diligência desempenha no desenvolvimento de cada uma, pois é a diligência que possibilita que cada força cancele uma delusão em particular, que faz com que o medo seja inábil e a mente enfraquecida em face dos seus medos. O que isso significa é que nenhuma dessas forças são meras forças brutas. Cada uma contém um elemento de sabedoria e discernimento que se torna mais penetrante à medida que você avança ao longo da lista.

Das cinco forças, a convicção requer a explicação mais longa, por duas razões, porque é um dos fatores mais mal compreendidos e subestimados no caminho Budista, e devido às múltiplas delusões que ela tem que neutralizar.
A convicção, neste caso, é a convicção na lei de karma: que o prazer e a dor que experimentamos depende da qualidade das intenções por trás das nossas ações. Essa convicção neutraliza a delusão, “Não é do meu interesse aderir a princípios morais em face do perigo,” e ela neutraliza essa delusão de três formas.

Primeiro, a convicção insiste naquilo que pode ser chamado de “bumerangue” ou “cuspir contra o vento”, a lei de kamma de causa e efeito. Se você agir com intenções inábeis e prejudiciais, independente da situação, o dano retornará para você. Mesmo que ações inábeis como matar, roubar ou mentir possam trazer benefícios no curto prazo, estes serão mais do que compensados pelo dano a longo prazo ao qual você estará exposto.

De modo inverso, este mesmo princípio poderá fazer com que tenhamos bravura na prática do bem. Se estivermos convencidos de que os resultados de intenções hábeis e benéficas irão retornar para nós, mesmo se a morte intervier, poderemos com mais facilidade fazer os sacrifícios demandados pelos empreendimentos a longo prazo em nosso próprio benefício e dos outros. Quer vivamos ou não para ver os resultados nesta vida, estaremos convencidos de que o bem que praticamos nunca estará perdido. Desse modo, desenvolvemos a coragem necessária para acumular um suprimento de ações hábeis – generosas e virtuosas – que constituem a nossa primeira linha de defesa contra os perigos e medos.

Segundo, a convicção insiste em dar prioridade ao nosso estado mental acima de qualquer outra coisa, pois é isso que molda as nossas intenções. Isto age contra o corolário da primeira delusão: “E se mantendo-me fiel aos meus princípios for mais fácil para as pessoas me causarem dano?” Esta questão, no final das contas, está baseada na delusão de que a vida é a nossa possessão mais preciosa. Se isso fosse verdadeiro, seria uma possessão bastante miserável, pois ela se encaminha de forma inexorável para a morte. A convicção encara a vida como preciosa apenas enquanto ela for usada para desenvolver a mente, pois a mente – quando desenvolvida – é algo que ninguém, nem mesmo a morte pode causar–lhe dano. A “qualidade de vida” é medida através da qualidade e integridade das intenções com as quais agimos, da mesma forma como o “tempo valioso” é o tempo dedicado à prática. Ou nas palavras do Buda:

Melhor do que cem anos
vividos sem virtude, desconcentrado, é
um dia 
vivido por uma pessoa virtuosa
absorta em jhana.        [Dhp 110]

Terceiro, a convicção insiste na obrigatoriedade da integridade incondicional. Muito embora outras pessoas possam jogar fora o seu bem mais precioso – a sua integridade – não há desculpa para que nós joguemos fora a nossa. O princípio de kamma não é uma lei de tráfego em vigor apenas durante certas horas do dia ou certos dias da semana. É uma lei que opera o dia todo, ao longo dos ciclos do cosmos.

Algumas pessoas argumentam que, como o Buda reconheceu o princípio da condicionalidade, ele não teria nenhum problema com a idéia de que as nossas virtudes também devem depender de condições. Esse é um mal-entendido do princípio da condicionalidade. Para começar, condicionalidade não significa simplesmente que tudo é mutável e contingente. É como a teoria da relatividade. Relatividade não significa que todas as coisas são relativas. Ela simplesmente substitui a massa e o tempo – que por muito tempo foram consideradas como constantes – por outra constante inesperada: a velocidade da luz. A massa e o tempo podem ser relativos num quadro particular inerte, enquanto o quadro se relaciona à velocidade da luz, mas as leis da física são constantes para todos os quadros inertes, independente da velocidade.

Do mesmo modo, condicionalidade significa que existem certos padrões imutáveis para a contingência e a mudança – um desses padrões é que as intenções inábeis, baseadas no desejo e na delusão, invariavelmente conduzem a resultados desagradáveis.

Se aprendermos a aceitar esse padrão como absoluto, ao invés das nossas sensações e opiniões, teremos uma exigência para ser mais engenhosos ao lidar com o perigo. Ao invés de seguir as nossas reações automáticas inábeis, aprenderemos a pensar de modo mais criativo para encontrar respostas que previnam da melhor forma qualquer tipo de dano. Isto proporcionará graça e precisão adicionais às nossas ações.

Ao mesmo tempo, precisamos observar que o Buda não ensinou a condicionalidade simplesmente para encorajar a aceitação da inevitabilidade da mudança. Ele a ensinou para mostrar como os padrões subjacentes à mudança podem ser dominados para criar uma abertura que conduza para além da condicionalidade e da mudança. Se quisermos alcançar o incondicionado – a verdadeira segurança – a nossa integridade tem que ser incondicional, uma dádiva de segurança transitória não somente para aqueles que nos tratam bem, mas para todos, sem exceção. Como dizem os textos, quando você se abstém totalmente de causar dano, você dá uma grande dádiva – liberta incontáveis seres do perigo – e você mesmo obtém também uma parcela dessa liberdade ilimitada.
Uma convicção e integridade dessa ordem colocam grandes exigências sobre nós. Até que tenhamos conquistado nossa primeira experiência do incondicionado, elas podem ser abaladas com facilidade. É por isso que elas precisam ser incrementadas com outras forças mentais. As três forças intermediarias – energia, atenção plena e concentração – agem em conjunto. Energia, sob a forma do esforço correto, neutraliza a delusão de que não somos capazes de rivalizar os nossos medos, de que uma vez que eles surjam temos de nos entregar a eles. O esforço correto nos proporciona o hábito de eliminar as qualidades inábeis sutis e desenvolver qualidades hábeis no seu lugar, para que quando as qualidade inábeis mais fortes surgirem, possamos usar as nossas qualidades hábeis como aliadas para rechaçá-las. A força da atenção plena ajuda neste processo de duas formas. (1) Ela nos lembra do perigo de ceder ao medo. (2) Ela nos ensina a focar a nossa atenção, não no objeto do nosso medo, mas no medo em si mesmo, como um evento mental, algo que podemos observar de fora ao invés de sermos arrastados por ele. A força da concentração ao proporcionar à mente um núcleo calmo de bem estar, nos coloca numa posição sólida onde não nos sentimos compelidos a nos identificar com os medos quando estes surgem, e onde o ir e vir dos perigos internos e externos são cada vez menos ameaçadores para a mente.
No entanto, mesmo assim a mente não poderá alcançar a segurança última até que desenraíze as causas desse ir e vir, e é por isso que as primeiras quatro forças requerem a força da sabedoria para torná-las totalmente sólidas. A sabedoria é que vê que esse ir e vir está no final das contas enraizado na nossa noção de “eu” e “meu,” e que “eu” e “meu” não são parte da experiência. Essa noção vem do repetido processo de fabricação de um eu e de um meu, através do qual impomos essas noções sobre as experiências e as identificamos com coisas sujeitas ao envelhecimento, enfermidade e morte. Além disso, a sabedoria vê com clareza os nossos traidores internos e as nossas fraquezas: os desejos que querem que fabriquemos um “eu” e “meu”; as delusões que fazem com que acreditemos neles uma vez que foram fabricados. Ela compreende que esse nível de delusão é precisamente o fator que faz com que o envelhecimento, enfermidade e morte sejam perigosos. Se não nos identificássemos com coisas que envelhecem, enfermam e morrem, o seu envelhecimento, enfermidade e morte não seriam uma ameaça para a mente. Totalmente sem ameaças, a mente nunca mais terá motivo para voltar a fazer qualquer coisa inábil.

Quando esse nível de sabedoria amadurece e produz o fruto da libertação, a nossa maior insegurança – a nossa inabilidade para confiar em nós mesmos – é eliminada. Livre dos apegos de “eu” e “meu,” descobrimos que os fatores componentes do medo – ambos, os hábeis e os inábeis – se foram. Não resta nenhuma confusão ou aversão; a mente não está mais enfraquecida em face do perigo; e assim, não há nada de que precisemos escapar.

Aqui é onde as questões colocadas pelo comentário do xamã encontram as suas respostas. Nós tememos porque vivemos no “eu.” Nós acreditamos no “eu” devido à delusão presente no nosso medo. De forma paradoxal, no entanto, se amarmos a nós mesmos o suficiente para temer o sofrimento que provém das ações inábeis e dos apegos, e aprendermos a acreditar no caminho para escapar disso, desenvolveremos as forças que nos permitirão romper os nossos desejos, delusões e apegos. Desse modo, o complexo todo – o “eu,” o medo, as crenças, os apegos – se dissolve. A liberdade que resta é a única verdadeira segurança que há.
Este ensinamento pode oferecer pouco conforto para qualquer um que queira o impossível: segurança para os seus apegos. Mas ao abrir mão da esperança por uma segurança impossível, você obtém a realidade de uma felicidade totalmente independente e livre de condições. Uma vez que você tenha feito essa troca, você saberá que a recompensa vale muito mais do que o preço. Como um dos discípulos do Buda reportou certa vez, “Antes, quando eu era um rei, eu tinha guardas postados dentro e fora dos aposentos, dentro e fora da cidade, dentro e fora da área rural. Mas mesmo estando guardado dessa forma, protegido dessa forma, eu vivia com medo – agitado, desconfiado e amedrontado. Porém agora, indo sozinho para a floresta, para o pé de uma árvore, ou uma cabana vazia, eu permaneço sem medo, sem agitação, confiante e destemido – despreocupado, calmo, minhas necessidades satisfeitas, com a minha mente como um gamo selvagem. Isso é o que tenho em mente quando repetidamente exclamo, ‘Que felicidade! Que felicidade!’”

É óbvio que esse gamo não é aquele dos faróis. É um gamo a salvo na floresta, tranqüilo aonde quer que ele vá. O que faz dele mais do que um gamo é que, livre de apegos, ele é chamado de uma “consciência sem superfície.” A luz a atravessa totalmente. O caçador não é capaz de nela atirar pois ela não pode ser vista.
  
ESFORÇO CORRETO


Esforço Correto é o sexto dos oito elementos do Nobre Caminho Óctuplo e pertence ao grupo da concentração

Definição ( os quatro Esforços Corretos):

"E o que é esforço correto?

 (i) Aqui, bhikkhus, um bhikkhu gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.

(ii) Ele gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.

(iii) Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.

(iv) Ele gera desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. A isto se denomina esforço correto."


 
  
Vínculo entre respiração e mente

Dra. Ingrid Bacci, in “Livre-se facilmente da dor crônica”, pág. 64-66


“O sentimento associa dor física e dor emocional. Emoções são sentimentos e sentimentos são sensações que habitam o corpo. A aflição pode ser uma pressão na garganta ou um peso no peito; a cólera, uma contração da mandíbula ou um aperto no plexo solar; o medo, um nó nos intestinos ou nos músculos do pescoço. Dado que os sentimentos se expressam visceralmente, se não forem postos para fora, mas negados ou controlados, as tensões resultantes comprometerão as funções orgânicas. A tensão contida engendra uma condição de não-sentimento. Quanto menos percebermos os nossos sentimentos, mais tensão injetaremos em nosso corpo. Quanto menos sentirmos o nosso corpo, mais dor padeceremos. A tensão pode ser uma maneira de evitar ou bloquear os sentimentos. Se aceitarmos plenamente as nossas emoções, a tensão que as alimenta pode desaparecer”. (pág. 149)


O poder que a respiração tem de transformar todos os aspectos de nossa vida deu a ela um lugar proeminente tanto nas tradições espirituais quanto no linguajar corriqueiro. Na Bíblia, Deus "soprou" nas narinas de Adão; a palavra "espírito" tem a mesma raiz de "respiração", e "inspirar" significa literalmente "inalar". Na linguagem cotidiana, reconhecemos a importância da respiração quando dizemos que uma paisagem é "de tirar o folego", que "precisamos de ar", que certa pessoa "nos sufoca", etc. Todos os aspectos de nossa vida se refletem na respiração e dependem de sua qualidade.


Entre as antigas tradições espirituais, o budismo e o yôga reservam um papel fundamental para a respiração. Cada uma dessas disciplinas atribui à sua filosofia um caráter ao mesmo tempo de ciência da saúde, de psicologia da mente, de um processo para maximizar todas as capacidades humanas e de um veículo para a evolução espiritual. (...) O yôga e o budismo enfatizam o físico e usam o corpo como instrumento de autoconhecimento por meio de práticas de autopercepção física e autodomínio baseadas numa respiração plena, profunda e fácil.


Quando respiramos com desenvoltura, sentimo-nos fisicamente relaxados, emocionalmente serenos, mentalmente lúcidos e calmos. Quando a nossa respiração é entrecortada, sentimo-nos fisicamente tensos, emocionalmente irritados, medrosos, ansiosos e coléricos, e mentalmente hiperativos (a nossa mente tagarela sem parar) ou confusos. Como bem reconhecem o yôga e o budismo, existe uma correlação direta entre os nossos estados físico, emocional e mental. Essa correlação pode ser assim diagramada:


Respiração descontraída = Relaxamento muscular = Emoções positivas = Concentração mental

e

Respiração contida = Tensão muscular = Emoções negativas (medo, cólera, etc.) = Agitação mental




Em princípio, alterar qualquer das quatro variáveis modifica automaticamente todas as demais. Cada variável acarreta as outras três. 

Já exploramos um dos aspectos dessa correlação quádrupla: a conexão entre padrões respiratórios e músculos. Como indica o diagrama acima, quando a respiração é descontraída e profunda, os músculos se relaxam; quando a respiração é contida, os músculos se enrijecem. A expansão da correlação quádrupla acima definida, promovendo facilidade de respiração e relaxamento dos músculos, acarreta emoções positivas e lucidez mental. A respiração contida e a tensão muscular acarretam emoções negativas e agitação mental.

Essa correlação quádrupla pode ser ativada começando-se por qualquer das quatro variáveis da equação. Por exemplo, digamos que nos sentimos emocionalmente perturbados - irritados ou com medo. Essa emoção desagradável traduz-se logo em tensão física. A respiração se toma superficial e difícil, a mandíbula se cerra, o peito se contrai, os ombros enrijecem, o ventre se retrai. Ao mesmo tempo, tendemos a nos dispersar mentalmente - a mente começa a divagar, ficamos distraídos ou confusos, quando não obnubilados. As emoções iniciam uma reação em cadeia em nosso corpo e mente. Todos já passamos por essa experiência.


[Do mesmo modo] uma mudança em seu estado mental [pode provocar] mudanças em sua respiração, músculos e emoções.

Cada uma das quatro variáveis - respiração, músculos, emoções e estado mental - tem sobre as outras um efeito dominó. Quando uma variável se altera, alteram-se igualmente as demais. Isso nos propicia importantes informações sobre como administrar melhor a vida e a saúde.


Se pudermos influenciar facilmente uma das variáveis, poderemos influenciar as outras. No entanto, é bem mais difícil influenciar diretamente os estados mental e emocional do que os músculos ou a respiração. Você já reparou como é difícil controlar a ansiedade ou a raiva? (...) Nós temos pouquíssimo controle sobre os nossos pensamentos e sentimentos, que parecem dotados de vontade própria. Todavia, podemos influenciar a nossa respiração e músculos com certa facilidade. Graças a isso, conseguimos administrar diretamente o modo como nos sentimos fisicamente e, indiretamente, controlar as emoções e o estado mental. Eis por que a percepção e o controle da respiração podem ter impacto benéfico em todos os níveis de stress.

Quando usamos a respiração para reduzir os stresses emocional, mental e físico, melhoramos a nossa qualidade de vida e essa melhoria reduz, por sua vez, as tensões que resultam em dor [ou outros desconfortos].

Dado que o controle da respiração constitui ferramenta eficiente para o domínio do corpo, da mente e das emoções, programas de aprendizado acelerado como os desenvolvidos na década de 1960 pelo cientista búlgaro Georgi Lozanov usam a respiração profunda como base para o aprendizado eficiente. Esses programas levam em conta o fato de que, se você conseguir aprofundar a respiração e relaxar o corpo, a sua acuidade mental melhorará quatro vezes








Mario N. Iampolschi

VAMOS REFLETIR

Existem muitos remédios, muitas meditações e muitas mentes, Buda sabendo disso criou várias meditações uma para cada tipo de personalidade.


O que funciona para mim pode não funcionar para você a exemplo das religiões,  o segredo para saber qual meditação escolher é saber transitar nelas, se você está ansioso a respiração lenta irá acalmá-lo se sua mente está agitada talvez um mantra numérico o ajude pois com números  não existe interpretações ao contrario das  frases. 

Existe um tipo de meditação que o Buda nos aconselhou a seguirmos dia e noite, a Plena Atenção ao corpo (incluindo a respiração) e aos nossos estados mentais.


O mestre Thich Nhat Han nos ensina que a  Respiração Consciente é a base da Plena Atenção, num Retiro com Monges de seu Monastério que fui, as perguntas eram diferentes , mas as respostas sempre incluíam "apenas respire com consciência".


Qualquer que seja a meditação que você escolha , a forma  de saber se está praticando corretamente é se ela lhe traz algum alivio e bom sentimento, o mestre Thich Nhat Han diz que a pratica correta é a que lhe traz prazer,   além disso tem de se praticar não maquinalmente mas "com  alma".
  
Os ensinamentos que Buda nos presenteou, foram adquiridos através do insight de suas meditações, ele descobriu muito além do que nos ensinou, nos ensinamentos nos passou apenas o que era necessário para nosso crescimento, ele não falou sobre Deus porque sabia que iriamos criar um "novo Deus"...a partir de suas palavras.

Um dos ensinamentos mais conhecidos é da Impermanência, tudo o que existe no universo está sujeito a mudança e transformação, nossos estados mentais, sentimentos , percepções, também, por isso Buda nos ensinou a apenas observá-los sem nos apegarmos  a eles,porquê nos apegarmos a um estado mental como se ele fosse definitivo, não sofresse transformação nem mudança...,  proponho que examinemos essa Lei no nosso dia-a-dia. 



HORA DA PRÁTICA 

Proponho esta quinzena  praticarmos o que está escrito no último texto 
" vinculo entre respiração e mente".

Podemos nos deitar de costas ou sentarmos num sofá confortavelmente,  respiramos conscientemente 3 vezes profundamente pelo nariz e soltamos pela boca,  inspiramos colocando nossa atenção em diversas partes de nosso corpo, em seguida na expiração relaxamos essas partes.


Começamos pelo rosto:

- inspiramos colocando nossa atenção total em nosso rosto e relaxamos nosso rosto ao expirartalvez nossa boca se abra um pouco fruto desse relaxamento, respiramos conscientemente mais três vezes sentindo o rosto relaxado , naturalmente sem esforço.

Passamos para o pescoço principalmente abaixo da nuca. 

Fazemos o mesmo processo acima  para ombro direito,  podemos sentir que  ombro cair , para o  ante-braço e o braço direito  e a mão fazemos o mesmo para o  lado esquerdo.

Vamos relaxando  as costas sentindo o peso dela ao relaxarmos, depois passamos para as nádegas.

Passamos para  a coxa direita,  a perna direita , os dedos do pé, fazemos o mesmo para a perna esquerda.

Passamos a atenção para nosso coração mentalizando junto com a respiração : inspirando sinto meu coração bater calma e compassadamente, expirando eu sorrio para o meu coração.


Vamos então para o nosso cérebro: inspirando sinto minhas ondas celebrais desacelerarem expirando sorrio para o meu cérebro.

Podemos também colocar nossa  atenção em órgão que esteja precisando de cuidados, fazendo o mesmo processo, visualizamos esse orgão totalmente saudável.

Podemos também  incrementar esse relaxamento vizualizando uma qualidade ou um desejo que queiramos vivenciar e depois  no final  contamos lentamente até cinco (seguindo a respiração),   podemos então abrir os olhos e nos levantarmos lentamente sem pressa.

O intuito dessa meditação é  relaxar nosso corpo primeiramente deitado, e com a prática  possamos a  relaxar com os olhos abertos, sentados, em pé numa fila de banco, antes de fazermos um exame de sangue, qualquer situação que necessitemos relaxar, e assim nossa mente também relaxa, até a próxima quinzena ,
                                                                               
                                                                          
                                                                       NAMASTÊ