Quem sou eu

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O meu inicio na meditação se deu através de um livro do monge zen budista, Thich Nath Han - Para Viver em Paz-Editora Vozes, Thich Nhat Han já foi indicado ao Premio Nobel da Paz, ele é minha grande fonte de inspiração para as praticas meditativas. Meu foco são as meditações dinâmicas que podem ser aplicadas na vida cotidiana por isso são descritos vários tipos de práticas. As práticas meditativas transformaram minha vida e hoje sou mais centrado e feliz, consegui também frear e diminuir muito meus pensamentos. Praticante há muitos anos de práticas meditativas, através da Sociedade Budista do Brasil tive contato com monges de outros países onde pude desenvolver mais a minhas práticas. Participei em 2004 de um retiro de meditação com monges do Monastério do Thich Nhat Han. Em 2013 me tornei professor de meditação. As praticas meditativas devem ser incluídas paulatinamente em nossa vida diária como estilo de vida, a Plena Atenção ensinada por Buda pode ser vivenciada em qualquer lugar ou situação.

segunda-feira, 30 de março de 2020


REEDIÇÃO

15ª EDIÇÃO PARTE II

Autor Mario Nigri Iampolschi


momento.zen.mario@hotmail.com






COMO FUNCIONA NOSSA MENTE


 
                                                                      
                                                                
Thich Nhat Han 
  
O Thay nos ensina que a felicidade é um hábito que pode ser praticado, ele não fala isso da boca para fora, tanto o Thay como os monges de seu monastério e outros monges que tive o privilégio de conhecer, realmente passam essa felicidade, geralmente eles sorriem muito, possuem um amor, uma energia de muita paz, de onde vem essa felicidade?  

Para sermos realmente felizes precisamos conhecer o funcionamento de nossa mente.



Fonte:  Thich Nhat Han "Corpo e Mente em Harmonia" 


Nesse livro ele explica que quando você aprende algo pela primeira vez você usa a consciência da mente para aprender, e depois de algum tempo isso se torna um hábito, aí a consciência da mente não precisa estar mais atenta, ele nos diz que no budismo são classificados  quatro consciências:



                                     
                                                                                                         

                                   
                
Consciência da mente 

É a que consome mais energia  , faz julgamentos , planos, se preocupa, analisa, (...vocês já se sentiram cansados por pensarem demais ?) o corpo faz parte dela, a mente não pode se manifestar sem um corpo, o cérebro que consome 20% da energia do corpo, pensamento, preocupação e planejamento são processos que consomem muita energia (como podemos ser felizes assim).

                                                        
Consciência dos sentidos 

Visão, audição, tato, paladar e  olfato
                                


Consciência armazém (consciência raiz)

É a mais profunda,  é o lugar onde todos os tipos de sementes e informações são mantidos.
                  
Tudo que fazemos  e tocamos possui uma semente que fica no fundo da consciência, ela armazena toda informação do passado, dos nossos antepassados,e  toda informação recebida através de outras consciências.

Quando ouvimos um canto de um pássaro nossa orelha e a musica se juntam fazendo vibrar a consciência armazém, essa , uma nova semente cai no continuum do armazém.
                                   
A consciência armazém recebe, armazena, preserva as informações e também as processa. O trabalho de processamento nesse nível não é dispendioso, a consciência armazém não gasta muita energia como por exemplo a consciência da mente.

A consciência armazém  pode processar essa informação sem muito trabalho, então se você deseja  economizar energia  não pense muito, não planeje muito deixe a  consciência armazém fazer a maior parte do trabalho de processamento. 

A consciência armazém trabalha na ausência da consciência da mente ela pode fazer muitas coisas, ela pode fazer planejamentos, tomar muitas decisões sem que você saiba disso.

Quando nós vamos a uma loja de departamentos e procuramos um chapéu ou uma saia , temos a  impressão  de que possuímos livre arbítrio  para escolher o que quer que desejamos, se o vendedor nos questiona sobre o que desejamos, podemos apontar ou verbalizar o objeto de nosso desejo, usando nossa consciência da mente para para selecionar as coisas e gostamos.  Mas isto é ilusão, tudo já foi decidido na consciência armazém.  No momento que somos abordados, não somos pessoas livres, nosso senso de beleza de gostar ou desgostar já foi decidido de forma precisa e muito discretamente no nível da consciência armazém.


Sermos livres é uma ilusão, o grau de liberdade que nossa consciência da mente possui é muito pequeno, a   consciência armazém  determina diversas coisa que fazemos , porque ela continuamente recebe, acolhe, mantém, processa e decide sem a participação da consciência da mente.  Mas se sabemos sobre a prática podemos ajudar a influenciar a forma como nossa consciência armazém guarda e processa informações, para que ela tome as melhores decisões. Nós podemos influenciar a consciência armazém.

Quando você está próximo a um grupo de pessoas apesar de querer ser você mesmo, você está consumindo as coisas delas, está consumindo a consciência armazém das pessoas do grupo.

Nossa consciência é alimentada por outras consciências. A forma como tomamos decisões, o que gostamos e desgostamos, depende da maneira coletiva de enxergar as coisas.

Você pode achar que algo não é bonito, mas se muita gente acha, então lentamente você acaba achando que a coisa é bonita também, porque a consciência individual é constituída a partir da consciência coletiva.

O valor do dólar é formado do pensamento coletivo das pessoas e não somente de elementos econômicos objetivos.   Medos, desejos, expectativas das pessoas fazem o preço do dólar aumentar ou cair.  Somos influenciados pela forma coletiva de visão e de pensamento,  por isso é muito importante nos cercarmos de pessoas que possuem bondade amorosa, compreensão e compaixão, porque dia e noite somos influenciados pela consciência coletiva.

A consciência armazém nos oferece iluminação e transformação, é como um jardim onde podemos plantar frutas , legumes, hortaliças, que poderão crescer, a consciência da mente é apenas o jardineiro.    
                                                     
       
        
                                                                                     
Um jardineiro pode ajudar a tomar conta da terra, mas o jardineiro tem que acreditar na terra, que ele pode oferecer frutas , legumes e hortaliças. 

Como praticantes nós não podemos confiar apenas na consciência da mente, temos que confiar em nossa consciência armazém, porque as decisões são tomadas lá em baixo.

Imagine que você digita uma coisa no computador e esta informação é armazenada no hard drive, ele é como a consciência armazém, apesar da informação não aparecer na tela da ele está lá, você só precisa clicar .

As bijas, as sementes na consciência armazém  são como as informações que você armazena no seu computador, se você quer você clica  e ajuda a informação a aparecer na tela da consciência da mente, essa mantém, armazena e preserva informações para que estas não possam ser apagadas.

Diferentemente de informações no hard drive, todas as sementes são de natureza orgânica podem ser modificadas.

A semente do ódio pode ser enfraquecida e sua energia pode ser transformada em energia de compaixão, a semente do amor pode ser fortalecida, a natureza da informação está sempre sendo mantida e processada pela consciência armazém está sempre fluindo e mudando, o amor pode se transformar em ódio, ódio pode se transformar novamente em amor.

A consciência armazém também é vitima, ela é objeto do apego, ela não é livre.

Na consciência armazém há elementos de ignorância, ilusão, medo, ira, e esses elementos constituem uma força energética que agarra e que deseja possuir.


Esse é o quarto nível de consciência chamado Manas.

                                                 
                                                             


Consciência Mana

Essa consciência possui raízes na na crença de um eu separado, na crença em uma pessoa.

Essa consciência, o sentimento e o instinto chamado eu sou, está profundamente arraigado na consciência armazém. Não é uma visão apreendida pela consciência da mente.
    

A idéia de que há um eu separado de elementos não eu está intensamente assentada nas profundezas da consciência armazém.

A função da consciência Mana é aderir a consciência armazém como um eu separado.

Manas está funcionando o tempo todo, nunca abandona a consciência armazém, estão sempre envolvendo, aderindo ou grudando na consciência armazém.

Manas acredita que a consciência armazém é seu objeto de amor. Essa é a razão para a consciência armazém não ser livre.Há uma ilusão que a consciência armazém sou “eu” de que ela é minha amada, de tal forma que não posso deixar que ela se vá. Dia e noite há um segredo, uma profunda cogitação de que isto sou eu e que isto seja meu..
   

Mana nasce e se enraíza na consciência armazém, abraçando esta como um objeto: “você é minha amada, você sou eu”. A função da consciência mana é se apropriar da consciência armazém como algo seu. 
  


Como as quatro consciências interagem

A consciência armazém é como um oceano e as outras consciências são descritas como ondas crescendo do oceano, há um vento e esse vento provoca manifestação das outras consciências.

A consciência armazém é a origem, a raiz, desta base a consciência da mente se manifesta e funciona. Algumas vezes ela resolve descansar e vai para casa, para consciência armazém. Desta forma a consciência armazém é o jardim e a consciência da mente o jardineiro.


A consciência mana também surge da consciência armazém mas ela acaba se virando e envolvendo a consciência armazém como algo que é de sua propriedade, como um objeto de amor, por isso ela é chamada de a amante.

Quando você se apaixona por alguém, você não se apaixona realmente por essa pessoa. Você cria uma imagem que é consideravelmente distinta da realidade. Depois de conviver com esta pessoa por um ou dois anos, você descobre que a imagem que possui deste alguém é um tanto diferente da realidade.

A pesar da consciência mana nascer da consciência armazém, o modo dela olhar para consciência armazém é repleto de ilusões e de percepções errôneas.
Quando usamos uma câmera para tirar foto de alguém, a foto é apenas uma imagem, não é a pessoa. A consciência mana pensa que ama a consciência armazém, mas na verdade ama apenas a imagem que criou.

Um objeto de consciência pode ser tanto a coisa em si quanto a representação que você subjetivamente constrói dela.

A consciência da mente pode ser interrompida, quando dormimos sem sonhar a consciência da mente não está trabalhando. Quando estamos em coma a consciência da mente para totalmente de funcionar e há concentrações profundas que a mente pára totalmente de funcionar contudo a consciência armazém continua operando. Na meditação profunda caminhando pode ser assim, seu corpo está em movimento e a sua consciência nem se dá conta disso.

A consciência da mente pode também funcionar independente da consciência dos sentidos ou as duas podem trabalhar em cooperação uma com a outra.

Imagine que você é convidado para uma exposição. Parado, em frete aos quadros, a consciência dos olhos esteja olhando para a obra sem nenhum pensamento. Num primeiro momento, talvez, a consciência dos olhos esteja olhando para a obra  sem pensamento e nenhum julgamento. Mas pôr e retirar os olhos do objeto dura um pequeno momento. Muito rapidamente, as experiências avançam e a consciência da mente sugere todos os tipos de avaliações, julgamentos e coisas desse tipo. Aí a cooperação entre a consciência da mente e consciência dos olhos. 

Quando a consciência da mente funciona junto com a consciência dos sentidos recebe o nome de consciência associativa.
                                                        
                                                           

Na meditação , você usa, normalmente a consciência da mente independente. Nós fechamos os olhos, ouvidos, não queremos se perturbados  pelo que vemos e ouvimos. A concentração está sendo realizada somente pela consciência da mente.  

                                        
     
Há momentos também que a consciência dos sentidos funciona em colaboração com a consciência armazém sem que chegue à mente. É engraçado, mas ocorre muito frequentemente. Quando dirige seu carro, você possui condições de evitar diversos acidentes, mesmo que sua consciência esteja pensando em outras coisas. E, ainda assim, a maior parte do tempo, pelo menos, você não se envolve em um acidente.

Quando você anda, raramente tropeça. Isso ocorre porque as impressões e imagens fornecidas pela consciência dos olhos são recebidas pela consciência armazém e decisões são tomadas sem que nunca cheguem à consciência da mente.

Se alguém está prestes a bater em você, ou cair em cima de você, você reage rapidamente.
Esta reação rápida, decisão, não é feita não é feita pela consciência da mente. Se você tem que fazer manobras rápidas , não é a consciência da mente que a faz. Nós não pensamos; "Oh,há uma pedra, desta forma tenho que saltar". Apenas pulamos a pedra. Esse instinto de autodefesa advém da consciência armazém.

No quarto frio, à noite, mesmo que não esteja sonhando e a consciência da mente não esteja funcionando , nós permitimos que a consciência dos sentidos colabore com a consciência armazém, a sensação de frio penetra pelo corpo, isto faz uma vibração na consciência armazém e seu corpo move o cobertor para cobrir você.

Esteja você dirigindo, operando uma máquina ou fazendo outras tarefas, nós permitimos que nossa consciência dos sentidos colabore com nossa consciência armazém, que nos possibilita realizar várias coisas sem a intervenção da consciência da mente.

Quando trazemos a consciência da mente para esse trabalho, então repentinamente podemos nos dar conta das formações mentais que estão sendo levantadas.

A palavra formação significa algo que se manifesta quando muitas condições estão reunidas.
                                              
                                                  
Quando olhamos para uma flor, podemos reconhecer muitos elementos que foram reunidos para fazer com que se manifestasse dessa forma. Sabemos que, sem chuva não haveria água, e a flor então não poderia se manifestar. E podemos ver que a luz do sol também está presente. A terra, o adubo, o jardineiro, tempo espaço e muitos outros elementos se juntaram para ajudar esta flor a se manifestar.

A flor não possui uma existência separada;   uma formação . O sol, a lua e o rio, todos são formações. Ao usar a palavra formação nos lembramos de que não há existência central separada na coisas. Há apenas um combinar de muitas, muitas condições pra que alguma coisa se manifeste.



                      

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